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Um sistema de capital de risco altamente especializado aproxima empresas iniciantes de alta tecnologia e outras áreas de investidores.

A economia dos EUA deve muito de seu crescimento pós-guerra às empresas emergentes, com um toque tecnológico, muitas das quais tiveram rápida expansão e contribuíram de maneira significativa para a criação de empregos, o crescimento da riqueza e a inovação – emblemas de nossa prosperidade nos últimos 50 anos. A história de como essas pequenas empresas atraem o investimento ou o capital de risco de que precisam, primeiro para sobreviver e depois para crescer, vale-se de uma cultura que valoriza o otimismo e o risco, políticas de governo abrangentes e favoráveis a investimentos, bem como na energia e no entusiasmo do empresário individualmente.

Como os Estados Unidos não têm monopólio sobre essas características, parece provável que histórias ligadas a investidores de capital de risco e a empresários da área de alta tecnologia cada vez mais serão um fenômeno global compartilhado.

Conhecimento dos termos

O mundo do capital de risco emprega uma nomenclatura específica usada pelo pessoal da área. Uma nova empresa é uma “start-up”(iniciante). Porque as gigantes das empresas de alta tecnologia, tais como a Hewlett-Packard e a Apple Computer, literalmente começaram em oficinas montadas em garagens de carros, as empresas iniciantes de hoje começam nas “garagens” do fundador. Como os fundadores procuram crescimento rápido, empresas iniciantes bem-sucedidas são chamadas às vezes de “gazelas”.

Uma nova empresa baseia-se inicialmente no trabalho árduo do fundador ou “capital suor”, além do financiamento externo de “amigos e familiares”, depois de “anjos” – indivíduos ricos cujos investimentos podem parecer, pelo menos para o fundador, atos de virtude –, culminando no compromisso de capital originário de fundos de capital de risco gerenciados profissionalmente, com freqüência conhecidos pelo acrônimo inglês de “VC” (CR, em português). Uma ou mais rodadas de financiamento, conhecidas como “Série A”, “Série B” e assim por diante, podem ocorrer nesse momento. O arco da gazela, uma vez que se origina de financiamentos privados a empresas de capital aberto, muitas vezes é chamado de “o embrião da IPO” (oferta pública inicial de ações).

Cada um desses rótulos, e outros não mencionados aqui, são apenas abreviações para itens e fenômenos que variam muito na prática de fato. Focalizo aqui como as gazelas se desenvolveram de maneira bem-sucedida nos Estados Unidos.

Primeira experiência de muitas crianças americanas com mercados de capitais: uma banca de limonada, cortesia do capital de risco da Mamãe e do Papai (© Jupiter Images)

Primeira experiência de muitas crianças americanas com mercados de capitais: uma banca de limonada, cortesia do capital de risco da Mamãe e do Papai (© Jupiter Images)

O imperativo cultural

Como um fundador, começando em sua garagem, solicita capital para crescer aos anjos e depois ao capital de risco (CR) de maneira bem-sucedida? Quais são os elementos centrais no processo? Os primeiros ativos de uma empresa iniciante são o cérebro, a energia e o comprometimento de seu fundador. Em outras palavras, os traços característicos do empresário são por si só uma forma de capital de risco.

Os Estados Unidos, nesse sentido, têm sido especialmente abençoados com indivíduos que reúnem otimismo, confiança e um enorme desejo de correr riscos. Afinal de contas, as probabilidades sugerem que iniciar uma empresa com sucesso na garagem (ou, como no caso de Steve Jobs da Apple Computer, na garagem de seus pais) não é, estatisticamente falando, uma maneira sensata de usar o tempo e a energia. O índice de fracasso é alto. É necessário enorme nível de otimismo e de confiança para o fundador dizer a si mesmo: “Apesar das probabilidades, eu posso me sair bem – e me divertir muito e ter muita satisfação com o negócio.”

Um apetite saudável pelo risco também é crucial. Por essa razão é improvável que o capital de risco floresça em sociedades onde as normas culturais, as políticas governamentais e a inércia burocrática desencorajam o risco. O capital de risco, ao contrário, requer equilíbrio adequado entre risco e recompensa. Se as conseqüências do fracasso significam não apenas falência legal, mas também ruína pessoal, o modelo de capital de risco não decolará.

Por outro lado, o apetite do fundador por riscos precisa ser aguçado pela possibilidade, apesar da longa lista de dificuldades, de recompensas sensacionais; isso significa, por sua vez, um ambiente de impostos baixos e sem obstáculos burocráticos para o sucesso empresarial. É essa possibilidade de ganho enorme que atrai os empreendedores americanos – não as dificuldades, mas as alegrias econômicas e psicológicas quando o jogo compensa.

A habilidade do fundador para agarrar oportunidades, agir com confiança e tolerar o risco é somente o começo da história. Também é importante um sistema de leis e normas sociais que proteja a propriedade intelectual; garanta educação pública universal; ofereça aos empregadores a capacidade de contratar e, mais importante, de demitir funcionários conforme as necessidades da empresa exijam; e garanta dentro de limites legais razoáveis a capacidade do investidor de colocar seu capital em empreendimentos por ele considerados promissores.

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Negócio fechado! Mas garantir capital de risco é somente um passo no caminho para um negócio principiante bem-sucedido (© Jupiter Images)

Obtenção do capital de risco

Supondo que o capital de investimento suficiente esteja disponível, como uma empresa americana iniciante típica tem acesso a ele em termos que recompensem de forma justa tanto o capital suor do fundador quanto o risco de capital do investidor? No decorrer dos anos, os americanos desenvolveram estruturas e processos que moldam a negociação entre empreendedores e investidores e que garantem o fluxo contínuo de capital para as empresas iniciantes que dele necessitam.

Os fundadores tiveram que desenvolver as ferramentas e o conhecimento para apresentar propostas que permitissem aos investidores avaliar de forma justa as perspectivas de sucesso de uma empresa iniciante. Os investidores, por sua vez, desenvolveram termos financeiros que lhes garantem oportunidades justas de obter lucros competitivos com aqueles que poderiam ganhar em outros tipos de investimentos, ajustados para o risco e sem possibilidade de confisco. Termos financeiros que propiciam ao risco do empreendedor uma incapacidade de atrair capital de risco, enquanto negociações demasiadamente severas da perspectiva do fundador privam o empreendedor do incentivo de investir seu capital suor em um negócio que está no início.

A longa história de negociações entre empreendedor e investidor produziu diretrizes relativamente claras e bem definidas para investimentos de capital de risco. Como alguém envolvido na evolução desse processo no início dos anos 1960, posso testemunhar que as tentativas e erros disseminados literalmente em milhares de transações produziram consenso e padronização das métricas necessárias.

O fundador de uma empresa iniciante geralmente capta dinheiro organizacional usando seus cartões de crédito até o limite e fazendo empréstimo garantido por hipoteca de residência. Ele paga aos credores “vagarosamente” para ganhar tempo com o objetivo de fazer o beta teste do produto em sua garagem. Se os resultados são promissores, o fundador organiza a rodada de amigos e família, tentando conseguir investimentos de colegas da faculdade, parentes, velhos amigos e colegas de trabalho.

Em seguida, recorre aos anjos, investidores financeiros especializados em fornecer capital de risco para pequenos novos negócios e empreendedores. A rodada de anjos é mais difícil, mas há grupos de anjos organizados nos Estados Unidos, bem como conferências de setores, competições de planos de negócios, clubes de capital de risco e outros estabelecimentos onde os anjos se reúnem e revêem propostas.

Os anjos em série, aqueles que já investiram com sucesso em empresas iniciantes, são os investidores mais desejáveis, especialmente quando podem “agregar valor” – assessoria comercial, contatos, dicas de vendas e outros – para a empresa. Garantir capital dos anjos exige vários telefonemas, muitas batidas à porta e muito contato com redes de relacionamento. Os agentes de colocação freqüentemente podem ajudar a encontrar o investidor de risco líder ou “bell cow”. Com o líder do consórcio definido, pode ser mais fácil atrair outros.

O processo não é fácil, mas certas disposições da lei americana podem ajudá-lo. A lei americana é favorável ao pedido de indivíduos de alto valor líquido, supondo que eles possuam suficiente valor líquido. Além disso, o tratamento fiscal dos investimentos de anjos pode ser atraente, com o governo federal aceitando metade do pagamento na forma de deduções fiscais.

Operadores na sempre agitada Bolsa de Valores de Nova York, onde os mercados livres avaliam as corporações públicas a cada dia útil (Richard Drew/© AP Images)

Operadores na sempre agitada Bolsa de Valores de Nova York, onde os mercados livres avaliam as corporações públicas a cada dia útil (Richard Drew/© AP Images)

Estruturação do negócio

As diretrizes que descrevem os termos do negócio entre empreendedor e investidor de capital de risco estão ficando mais fáceis de ler. Diversas pesquisas estão disponíveis para indicar termos de negócio padrão para o mercado/setor. Os formulários-modelo estão disponíveis em grupos comerciais, tais como a Associação Nacional de Capital de Risco, e em bibliotecas de escritórios de advocacia e consultores que atuam rotineiramente nessa área.

Empreendedores entendem que os investidores de capital de risco esperam uma taxa interna de retorno (TIR) média de 20% composta sobre a carteira como um todo. A TIR é um indicador de desempenho da indústria que combina a taxa de apreciação de uma participação entre o investimento e a venda e uma taxa garantida de retorno sobre as distribuições provisórias. Em outras palavras, avalia o retorno do investidor durante o horizonte de tempo esperado de cinco a sete anos entre o investimento e a sua saída (quando o investidor vende seu investimento).

Assim, o fundador da empresa iniciante, quando procura os capitalistas de risco, entende que eles devem ser capazes de apresentar projeções realistas normalmente baseadas em receitas reais e que, quando ajustadas para o risco, satisfaçam a taxa interna de retorno do investidor. Desde que as avaliações da primeira fase tendem a ser influenciadas pelas tendências percebidas pelo capital de risco e pelo instinto de rebanho, muitos investidores, ao contrário, confiam em “avaliações do pré-money” oferecidas por várias organizações de avaliação de desempenho.

O ponto crucial é que as lições tiradas das legiões de transações conferiram eficiência e facilidade para a estruturação de negócios. Barganhas desnecessárias sobre assuntos relativamente triviais são cada vez menos freqüentes. Com base na experiência do que foi arduamente conquistado, investidores e empreendedores têm uma idéia justa do que querem oferecer e o que precisam receber a fim de fazer com que o processo funcione. Quando o lado compras e o lado vendas estão alinhados, a transação é concluída com um mínimo de custos friccionais e tempo gasto. As partes podem focar nas variáveis principais: o valor da tecnologia da empresa iniciante, seus concorrentes, a qualidade de sua gestão, o horizonte de tempo para sair e o preço provável de saída. Os jogadores contribuem coletivamente para um ambiente que minimiza riscos excêntricos e supérfluos.

Os governos estaduais e federal contribuíram para esse processo relaxando regulamentações restritivas. Os tribunais estaduais em Delaware, reduto de muitas corporações americanas, esclareceram e explicaram normas de governança corporativa aplicáveis. Nesse ínterim, a lei principal, empresas de contabilidade e bancos de investimento trabalharam para padronizar a estrutura do negócio e a redação dos contratos. O processo foi gradual, naturalmente, e acumulativo, com sucesso gerando sucesso. Na verdade, chega-se novamente ao imperativo cultural americano de otimismo, confiança e apetite por risco. Esses valores incentivaram tanto capitalistas de risco quanto empreendedores para construírem juntos um sistema integrado que satisfaça suas necessidades coletivas. São o esteio do crescimento econômico e da prosperidade dos americanos.

Horizonte amplo

Uma conseqüência promissora é que durante os últimos anos alunos de todo o mundo, em minhas aulas e em outras aulas semelhantes, estudaram o fenômeno do capital de risco e levaram as lições para casa. As histórias de sucesso estão se espalhando por todo o mundo, especialmente nos “Três Is”: Irlanda, Índia e Israel.

Modelos de concorrência baseados na arbitragem de mão-de-obra de baixo custo e na riqueza de petróleo vão levar a economia somente até aqui. Na análise final, inovação e tecnologia oferecem um horizonte amplo e um recurso inesgotável.

Fonte: Joseph W. Bartlett – Site

As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posição nem as políticas do governo dos EUA.

 

 

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